
Sara Frederico | Como Sorrir Depois De Um AVC Aos 13 Anos
Hoje vou contar-vos a história da Sara Frederico, uma guerreira que nunca deixou de batalhar, mesmo depois de um AVC aos 13 anos, lhe ter roubado a adolescência.
Hoje com 24 anos, conta-nos a sua história na primeira pessoa.
Conheci-a num acaso da vida, mas desde logo percebi que era especial e um verdadeiro exemplo de coragem.
Tem um sorriso lindo e uma felicidade contagiante que muito admiro.
A pessoa certa para fazer parte deste blog para inspirar e partilhar a sua força com outras pessoas!
Partilha como tem sido a sua vida depois de um AVC.
Elsa – O que é que te aconteceu?
Sara Frederico – Tive um AVC (Acidente Vascular Cerebral) no dia 22 de Dezembro de 2005.
E – Que idade tinhas?
S – Tinha 13 anos. Era apenas uma criança.
Não percebia o porquê de com apenas 13 anos estar num hospital
E – Como lidaste com o que te estava a acontecer?
S – Foi muito difícil lidar com a situação. Passei por várias fases: Primeiro a de revolta, não percebia o porquê de com apenas 13 anos estar num hospital, numa cama, com soro, uma fralda e o cabelo rapado.
Era altura de Natal e não podia estar em casa, não podia brincar, nem sequer levantar-me da cama do hospital.
Depois a fase de perceber o que se estava a passar, mas ainda assim não perceber o porquê de estar numa cadeira de rodas, o porquê de tudo, se até então era tão saudável e nunca tinha ido ao hospital.
Por fim, a fase de aceitação. Aceitei que aconteceu porque tinha de acontecer e que tinha de seguir em frente e lutar.
E – Quando é que percebeste que o que aconteceu estava a mudar a tua vida para sempre?
S – Percebi quando me deparei com uma cadeira de rodas, com o cabelo rapado e sem conseguir mexer o braço e a mão. Ai sim, percebi que tinha uma batalha longa e dura pela frente.
E – Que justificação te deram os médicos para teres um AVC tão nova?
S – A justificação foi simples e compreensível: tinha uma veia mal formada de nascença.
Quando nasci a medicina não estava evoluída para que fosse detetado num simples exame, esses exames são caros.
Ainda hoje estou em fase de recuperação, mas não vou desistir nunca.
E – Como foi a recuperação depois de um AVC?
S – Inicialmente a recuperação foi difícil pois fiquei com paralisia facial e nos membros superior e inferior esquerdos.
Para a recuperação da paralisia facial foi necessário técnicas que usamos no dia-a-dia e que nem damos conta do quanto são importantes, como a técnica do beijinho (tinha de mandar um beijinho); a técnica do sorrir e olhar para um espelho para me ajudar a melhorar; mastigar pastilhas elásticas diariamente também foi algo que me ajudou imenso.
Em relação à recuperação do membro inferior esquerdo (a perna), comecei a largar a cadeira de rodas e a andar – ainda me lembro como se fosse agora do que me disseram: “a partir de hoje faz de conta que és um bebé e vais aprender a andar”, e assim foi.
Como era uma criança quis andar o mais rápido possível, daí não o ter aperfeiçoado, mas hoje ando, pode não ser um andar perfeito, mas ando e orgulho-me de conseguir andar.
A recuperação da mão e do braço foi, e é, muito mais difícil pois foram os membros mais afetados e que são sempre de lenta recuperação.
Passaram-se 11 anos e pouco recuperei do braço, mas o que recuperei faz-me olhar para trás e ter orgulho.
Dizer “não consegui tudo, mas já consegui um bocado”.
Ainda hoje estou em fase de recuperação, mas não vou desistir nunca.
O meu maior sonho é poder ir a CUBA (porque lá a medicina é mais avançada) e dar o máximo de mim como tenho feito até hoje.
E – O que foi mais importante na tua recuperação?
S – Sem dúvida voltar a andar.
E – Que tratamentos fizeste?
S – Os tratamentos que fiz na altura foram: fisioterapia – que hoje continuo a fazer -; terapia ocupacional, que me ajudou muito a nível cognitivo; e também tive terapia da fala para me ajudar na paralisia facial.
E – Conseguiste recuperar totalmente?
S – Não, mas vou conseguir! Sei que sim!
E – O que aprendeste com esta vivência?
S – Que ninguém está livre e que o meu caso não é nada comparado com o de muita gente que conheci e vou conhecendo neste percurso. Conheci excelentes pessoas e outras com problemas mais graves.
E – Que conselhos podes dar a pessoas que possam estar a passar pelo mesmo que tu?
S – Nunca desistam, nem se deixem inferiorizar em relação a nada nem ninguém. Não somos menos nem mais que ninguém.
Sou muito mais forte do que alguma vez pensei vir a ser.
E – Deixaste de ter capacidade para fazer algumas coisas ou ainda te tornaste numa mulher mais forte?
S – Deixei de ter capacidade para tudo, mas hoje uso técnicas que aprendi com profissionais, e outras sozinha, que me tornaram 100% independente. Sou muito mais forte do que alguma vez pensei vir a ser.
Esta é a história da Sara. Uma história real e de muita coragem, de uma menina que se teve fazer mulher depois de um AVC.
Ela disse muitas coisas importante e que, na minha opinião, todos deveríamos memorizar e tirar partido delas para a nossa próprias vidas.
Jamais posso esquecer esta frase, que tem de ficar gravada no meu cérebro cada vez que eu pensar que estou mal: “o meu caso não é nada comparado com o de muita gente que conheci”.
Espero que a Sara e a sua vida, depois de um AVC, vos tenha inspirado tanto quanto me inspirou a mim.
Estejam à vontade para também partilharem as vossas histórias, ou de alguém que conhecem, comigo.
Muitos beijinhos a todas as Saras deste país e do mundo!

